Brasil Enfrenta Desafio com Excesso de Energia Renovável e Contas de Luz Elevadas

Brasil Enfrenta Desafio com Excesso de Energia Renovável e Contas de Luz Elevadas

Cenário Atual da Energia no Brasil

Em julho de 2025, o Excesso de Energia Renovável no Brasil atingiu uma marca impressionante no setor energético: uma capacidade instalada de 215 gigawatts (GW). Desse total, as fontes eólica e solar representaram juntas 44% da matriz elétrica, com 16% provenientes da geração eólica e 28% da solar. No entanto, apesar desse avanço significativo em energias renováveis, o país enfrenta um paradoxo. A carga média anual estimada para 2025 é de 83,2 GW médios, o que reflete o consumo efetivo de energia ao longo do tempo, mas em dias de pico, a demanda instantânea pode ultrapassar 100 GW.

O Excesso de Energia Renovável que deveria ser uma vantagem para o Brasil se transforma em um problema. A robustez dos números esconde o desafio de que o sistema não consegue absorver a produção excessiva, levando a um fenômeno conhecido como ‘Curtailment’. Esse termo técnico refere-se à redução ou corte da produção quando a geração excede a capacidade de consumo ou transmissão, resultando em um desperdício de energia limpa.

Impactos do Curtailment no Sistema Elétrico

No dia 10 de agosto, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tomou uma decisão drástica: desligou toda a geração eólica e solar centralizada para manter o equilíbrio do sistema em 60Hz. Essa ação gerou debates acalorados no setor, que se desenvolveu com base em subsídios. Especialistas agora questionam se esses incentivos se tornaram excessivos.

O professor Reive Barros, ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que o Brasil enfrenta uma ‘guerra de subsídios’. Segundo ele, os incentivos estimularam fortemente a geração distribuída, mas a carga não acompanhou esse crescimento, obrigando o ONS a controlar o sistema cortando a geração das fontes centralizadas. Barros esclarece que o problema não é a falta de geração, mas sim a falta de carga para absorver essa energia.

Geração Distribuída e Seus Desafios

A Micro e Minigeração Distribuída (MMGD) tem se destacado no Brasil, somando 42,1 GW instalados, abrangendo geração residencial, comercial e rural. O ONS reconhece a importância dessa expansão para a diversificação e sustentabilidade da matriz elétrica. Contudo, surgem novos desafios, como a previsibilidade e disponibilidade de energia ao longo do dia.

A expansão dos subsídios começou em 2010, quando leilões de energia passaram a incluir fontes alternativas com condições especiais. Esse movimento impulsionou o setor, mas transferiu os custos para o consumidor regulado, que paga os subsídios via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Entre 2020 e 2024, os subsídios cresceram exponencialmente, com incentivos que chegaram a R$ 48 bilhões em 2024.

Incentivos e Políticas para Energias Renováveis

A Resolução Normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 2012, permitiu que consumidores gerassem sua própria energia e compensassem o consumo com créditos, marcando oficialmente o início da MMGD. Desde então, diversas linhas de financiamento foram criadas, com mais de 100 opções ativas para residências, empresas e produtores rurais, oferecidas por instituições como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Além disso, a isenção de impostos tem sido um forte incentivo. Muitos estados zeraram o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para equipamentos solares, enquanto o governo federal reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) e Imposto de Importação para painéis solares até 2026. Programas como o Plano Safra também facilitaram o crédito rural para energia solar.

O Futuro da Energia Renovável no Brasil

O parque de energias renováveis do Brasil, que inclui solar, eólica e MMGD, soma 93.924,7 megawatts (MW), representando 38,7% do total da capacidade instalada. A MMGD foi o segmento que mais cresceu, chegando a 17,6% da capacidade total. Em menos de uma década, seu avanço foi tão rápido que já há previsão de que ultrapasse a solar e a eólica centralizadas até 2029, quando deverá alcançar 65.138 MW, ou 24,2% do total.

Esse crescimento acentuado pressiona por investimentos em linhas de transmissão para garantir que toda essa energia possa ser distribuída adequadamente. O governo brasileiro tem planos ambiciosos de se tornar um player global no setor de energias renováveis até 2030, o que inclui desde a geração de hidrogênio até o suporte a data centers.

Desafios e Soluções para o Setor Energético

Reive Barros ressalta que a ampliação das linhas de transmissão é essencial para atender ao crescimento natural das cargas e à instalação de novos projetos. No entanto, ele alerta que não se pode culpar apenas a transmissão pelos cortes de energia. O problema central, segundo ele, é a sobreoferta de energia. ‘Esse é o único produto que, mesmo sem cliente, sofre grande pressão para aumentar a oferta’, resume Barros.

O Brasil conseguiu números impressionantes na geração de energia renovável, mas o excesso de incentivos, combinado ao rápido crescimento da MMGD, criou distorções significativas. Enquanto os consumidores financiam os subsídios, o operador do sistema se vê obrigado a cortar a geração de energia limpa para evitar desequilíbrios.

Discussões no Coniben 2025

O debate sobre o futuro do setor energético brasileiro deve continuar no Coniben, previsto para os dias 27 e 28 de novembro em Lisboa. O evento reunirá especialistas do Brasil, Portugal e Espanha para discutir os caminhos para ajustar o setor, buscando conciliar a expansão das renováveis com o equilíbrio do sistema e a sustentabilidade econômica.

O Brasil está em uma encruzilhada energética. Por um lado, possui um potencial extraordinário para liderar o setor de energias renováveis a nível global. Por outro, enfrenta desafios internos que precisam ser resolvidos para garantir que o crescimento seja sustentável e benéfico para todos os envolvidos, especialmente para os consumidores que ainda não sentem o alívio nas contas de luz.

O Brasil enfrenta uma encruzilhada energética, com potencial para liderar no setor de renováveis, mas com desafios internos a serem resolvidos para garantir crescimento sustentável.

Fonte: clickpetroleoegas.com.br